domingo, 2 de junho de 2019

O CANTO DAS SEGUNDAS-FEIRAS



Do Livro CORAÇÃO DE BONECO DE LATA

Era Segunda-feira por isso o mundo tinha outra cor. O contentamento que eu sentia transformava tudo à minha vota. Era dia de doar amor. Em mim nascera o voluntariado!

Então eu já pegava o violão e afinava as cordas, dava uma lustrada com a flanela que já estava no bolso da capa do violão, pegava meu chapéu de cor de vinho ou cor de verde, e iniciava o planejamento do trabalho voluntário que se daria logo mais à tarde. Nesse tempo, eu pagava as contas de casa como vendedor de plano de saúde na capital paraibana.

E assim, toda segunda feira às 15 horas - estivesse onde estivesse - parava as vendas e as visitas de vendedor e seguia para a Casa de Apoio da Rede Feminina de Combate ao Câncer, ali no bairro de Jaguaribe, da capital paraibana, por trás do Hospital Napoleão Laureano.

Assim começa a aventura inesquecível deste Boneco de Lata, voluntário na Pediatria do Hospital de Câncer da Paraíba.

“Essas pessoas, agora vitimadas pelo câncer devorador, estavam ali sem nenhuma barreira, despidas de preconceito. A doença os igualava. E eu me irmanava a eles, levando alegria e esperança, amor, afeto e Arte. Muita Arte para eles.”

Pois bem, quando chegava à Casa de Apoio, alguns pacientes já nos esperavam, outros estavam chegando do tratamento Quimioterápico ou Radioterápico, ou mesmo de consultas de retorno aos médicos no consultório dentro do Hospital.

Já faziam um círculo de cadeiras e eu me sentava junto deles e começava cantando músicas do repertório da MPB, depois contava histórias e também ouvia suas histórias que eram muitas e maravilhosas.

Eram homens e mulheres vindos do interior, dos sítios dos Sertões profundos, ou dos cariris paraibanos, pernambucanos e potiguares, já que o Hospital Napoleão Laureano, ainda hoje é um dos Hospitais de referência no tratamento de câncer. E recebia estes doentes sofridos dos três estados que se entrelaçam no miolo do nordeste brasileiro.

Essas pessoas, agora vitimadas pelo câncer devorador, estavam ali sem nenhuma barreira, despidas de preconceito. A doença os igualava. E eu me irmanava a eles, levando alegria e esperança, amor, afeto e Arte. Muita Arte para eles.

Muitas vezes chorei, abraçado com estes amigos ouvindo seus causos e consolando suas saudades da sua casa, dos filhos e netos e até de sua terra.

Antes de iniciarmos nossos momentos de Arte, aguardávamos a chegada dos pacientes que vinham do Hospital e quem os trazia era a enfermeira da Casa de Apoio.

Um dia, recebemos a visita de Christianne Abath, Assistente Social do Hospital Napoleão Laureano. Christianne era minha amiga desde a juventude. E ela me pediu para que eu visitasse as crianças na Pediatria do Hospital.

- Deus me livre! Não me peça isso, amiga!

- Ah meu amigo, elas são crianças e não têm nenhuma arte ou atrativo que as alegre. Vamos lá!

- Deus me livre! Ver o câncer em adultos ainda aguento, mas em crianças não suportaria. Não tenho estrutura para ver este sofrimento em criancinhas!

Mas a persistência da amiga deu frutos de amor.

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