Do Livro CORAÇÃO DE BONECO DE LATA
Então eu já pegava o violão e afinava as cordas, dava uma lustrada com a flanela que já estava no bolso da capa do violão, pegava meu chapéu de cor de vinho ou cor de verde, e iniciava o planejamento do trabalho voluntário que se daria logo mais à tarde. Nesse tempo, eu pagava as contas de casa como vendedor de plano de saúde na capital paraibana.
E assim, toda segunda feira às 15 horas - estivesse onde estivesse - parava as vendas e as visitas de vendedor e seguia para a Casa de Apoio da Rede Feminina de Combate ao Câncer, ali no bairro de Jaguaribe, da capital paraibana, por trás do Hospital Napoleão Laureano.
Assim começa a aventura inesquecível deste Boneco de Lata, voluntário na Pediatria do Hospital de Câncer da Paraíba.
“Essas pessoas, agora vitimadas pelo
câncer devorador, estavam ali sem nenhuma barreira, despidas de preconceito. A
doença os igualava. E eu me irmanava a eles, levando alegria e esperança, amor,
afeto e Arte. Muita Arte para eles.”
Já faziam um círculo de cadeiras e eu me sentava junto deles e começava cantando músicas do repertório da MPB, depois contava histórias e também ouvia suas histórias que eram muitas e maravilhosas.
Eram homens e mulheres vindos do interior, dos sítios dos Sertões profundos, ou dos cariris paraibanos, pernambucanos e potiguares, já que o Hospital Napoleão Laureano, ainda hoje é um dos Hospitais de referência no tratamento de câncer. E recebia estes doentes sofridos dos três estados que se entrelaçam no miolo do nordeste brasileiro.
Essas pessoas, agora vitimadas pelo câncer devorador, estavam ali sem nenhuma barreira, despidas de preconceito. A doença os igualava. E eu me irmanava a eles, levando alegria e esperança, amor, afeto e Arte. Muita Arte para eles.
Muitas vezes chorei, abraçado com estes amigos ouvindo seus causos e consolando suas saudades da sua casa, dos filhos e netos e até de sua terra.
Antes de iniciarmos nossos momentos de Arte, aguardávamos a chegada dos pacientes que vinham do Hospital e quem os trazia era a enfermeira da Casa de Apoio.
Um dia, recebemos a visita de Christianne Abath, Assistente Social do Hospital Napoleão Laureano. Christianne era minha amiga desde a juventude. E ela me pediu para que eu visitasse as crianças na Pediatria do Hospital.
- Deus me livre! Não me peça isso, amiga!
- Ah meu amigo, elas são crianças e não têm nenhuma arte ou atrativo que as alegre. Vamos lá!
- Deus me livre! Ver o câncer em adultos ainda aguento, mas em crianças não suportaria. Não tenho estrutura para ver este sofrimento em criancinhas!
Mas a persistência da amiga deu frutos de amor.
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