(Capítulo do Livro : “CRONICAS DE UM GESTO VOLUNTÁRIO”, Autores Taisa Ferreira , Lúcia Leão , João Paulo Tupynambá, Edição MINISTÉRIO DA SAÚDE , Brasília, 2001, pág. 86-87)
- Eles vêm de sítios e fazendas do interior , na maior parte das vezes com câncer de pele adquirido no trabalho de sol a sol . Ficam semanas , às vezes meses. Sou sertanejo , já vivi a seca , conheço bem o problema desse pessoal . A gente tenta ter um papo aberto , conversar sobre todas as dificuldades da vida deles, que são pessoas carentes em todos os sentidos – afirmou o poeta nascido em Itaporanga, alto sertão paraibano .
Uma das maiores emoções de Merlânio foi ver um homem já idoso pegar seu violão e, com aqueles dedos calejados e encarquilhados, bater nas cordas com a dificuldade de quem não tocava há algumas décadas .
- Ele disse que havia tocado violão quando era rapaz . Ainda sabia solar algumas melodias . Ficou numa alegria muito grande por ter tocado violão tanto tempo depois . É muito gratificante ver que nosso trabalho melhora a qualidade de vida de alguém – disse o artista .
Merlânio, segundo suas próprias palavras , “trabalha o lado lúdico d arte ”. A partir das poesias e das músicas – num esforço acompanhado também por psicólogos -, ele conversa com os enfermos sobre suas angústias e problemas , sobre a doença e as dificuldades da vida no hospital .
Lembra-se de uma vez em que conversava com um grupo de pacientes sobre a importância do ato de perdoar , de não guardar rancor .
- Uma senhora , com idade já avançada , disse que não perdoava determinado desafeto que , numa certa ocasião , tinha batido na filha dela. Daí eu disse a ela que , com a raiva , a gente acaba guardando muita coisa ruim , muita coisa que a gente deveria jogar fora . Ela nada falou. Apenas começou a chorar . Então sem uma palavra , veio até mim e me deu um abraço . São momentos de alegria muito grande – afirmou.
- É difícil manter os meninos motivados. Já vi pessoas que queriam ser voluntárias cair em choro convulsivo quando viram as crianças mais graves . É importante sempre manter um caráter de otimismo – diz o artista , que sempre abraça os pacientes .
- Como eles , sou um viajante do Universo . Todo mundo está no mesmo barco , e temos que nos ajudar uns aos outros – disse o poeta , que deve publicar este ano na capital paraibana dois livros infantis, uma outra faceta do seu trabalho.
(Merlânio Maia é poeta e músico popular , há 7 anos trabalha com pacientes portadores de câncer no Hospital Napoleão Laureano em João Pessoa-PB)
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