quinta-feira, 24 de junho de 2010

A SAGA DE KLEDIR



A SAGA DE KLEDIR
Crônica de Merlânio Maia

Nestas muitas tardes de sábado que estivemos com as crianças com câncer, uma me marcou terrivelmente.

Os Bonecos de Lata têm a missão de levar alegria aos pacientes, funcionários, enfermeiros e assim mantemos uma relação de afeto com todos, mas naquele sábado a nossa amiga enfermeira de plantão nos informou de chofre:

- O Kledir está muito mal! Dificilmente passará de hoje!

Kledir nos conquistou desde o primeiro dia. Seu jeito brejeiro, calado e sofrido fez com que aproximássemos mais dele. Nascido no interior do estado, numa família de catorze irmãos, quando tinha cinco anos a mãe faleceu de complicações do coração, deixando ele como caçula sem o apoio maternal.

Certo dia caiu e machucou o joelho. A partir dali nunca mais teve saúde. O seu joelho inchava sempre e depois de muito tempo os irmãos o levaram ao posto de saúde, resumindo, dali foi para no Hospital Napoleão Laureano e foi diagnosticado o câncer.

A família fugiu abandonando-o à própria sorte. Então os médicos entraram com uma ação e a família foi localizada e obrigada, pela justiça, a dar apoio ao menino e a fazer plantão no Hospital, para cuidar dele, pois as crianças têm que ter familiares acompanhantes. É Lei!

Esta foi a sua Saga. Era tanta a sua carência de amor que  quando brincávamos com as outras mães na enfermaria dele ouvíamos comovidos:

- Se minha mãe estivesse viva, ela também estava brincando aí e eu não ficava sofrendo aqui sozinho, num era não, Boneco?

E eu respondida: - Claro que não, mas sua mãezinha está lhe ajudando junto com a mãe de Jesus, que a todos nos ajuda!

Pois bem. Naquele sábado, depois do nosso trabalho de cantar, contar histórias e tudo mais, fomos ao seu encontro no reservado. Cantamos uma oração, pois ele estava com dificuldade de respirar.

Com metástase no pulmão, fígado, intestinos. Agora nos olhava confiante.

Num determinado momento, pediu a mão da Boneca de Lata para pegar. Ela deu a mão e ele disse arfando:

- Fique aqui comigo, porque estou indo embora!...

Foram suas últimas palavras.

Esperamos até o fim. Oramos juntos pedindo a Deus o conforto para aquele órfão de mãe tão carente e pedimos especialmente a Mãe Santíssima, Maria de Nazaré que o amparasse e, se possível fosse, que lhe entregasse a sua mãezinha tão amada por aquela criança de coração tão sofrido. Acabando com aquela orfandade de vez!

Um comentário:

Roney disse...

Que belo trabalho no hospital do câncer!

Há meu amigo Merlânio, não ouso querer mais nada que isto na minha vida de aprendiz de músico espírita!

Há tantos "tesouros" que vejo o artista espírita buscando, e tenho em minha mente que o tesouro mais precioso que busco é este, de ver o "sorriso de esperança" de uma criança, de um idoso, de um adolescente, de um ser humano, ao se debruçar aos prantos emocionado com "Pedro" ou se alegrar com "Tic Tac", ao encher o espírito de força e fé ao ouvir uma canção que lhe ilumina de todas as formas possíveis.

Este é o verdadeiro tesouro do artista espírita, e você cuida bem do seu merlânio, parabéns!

Rone